domingo, 25 de outubro de 2009

Arrivederci, amore, ciao



Ainda assim, foi algum tempo que morámos nesta rua. Agora chegou a altura de partir, com a cena de um filme que vimos pela primeira vez em 2001, na cidade amada. «Si muore un pò per poter vivere».

terça-feira, 15 de setembro de 2009

St. Martin-in-the-fields

Charing Cross Road

Não sei que obsessão é esta em querer ser uma rua. Acho que é por ser onde as pessoas se cruzam... Bem que gostava de ser a Charing Cross Road em Londres. Uma escolha óbvia? Talvez. Uma rua cheia de livrarias, sobretudo de livros em segunda mão, e a Blackwell's no número 100. E teatros, muitos teatros. A fazer esquina com a Trafalgar Square e St. Martin-in-the-fields. Que nome tão bonito para uma igreja: St. Martin-in-the-fields, uma igreja que se prolonga para os campos que são todas as ruas.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Isto vai acabar mal...



O realizador Otar Iosseliani, da Georgia, conta que quando conheceu João César Monteiro, num festival de cinema, este estava sempre a repetir a frase «Ça va mal se passer... Ça va mal se passer...». Subscrevo. O César é que sabia. Isto vai acabar mal...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Lisboa (3)



Sophia olha Lisboa no Miradouro da Graça

LISBOA

Digo:
«Lisboa»
Quando atravesso – vinda do sul – o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do seu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas –
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
– Digo para ver

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Cu da Bibi

Falava um dia com um amigo sobre o quanto gostava da forma como Caetano pronuncia à portuguesa as palavras da canção "How beautiful could a being be?", como aliás faz também na canção «Manhatã». O meu amigo concordou comigo. Disse-me que que se lembrava de, no concerto da Expo, em 1998, da primeira vez que ouviu a canção, ter pensado «Chiça, estes gajos são lixados - How Beautiful Cu da Bibi...». e só depois quando chegou a casa ter verificado que a interpretação era exclusivamente sua.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Ay Carmela (1)

«Era un ricordo dell'infanzia, perchè da molti anni non era presente quando lui dipingeva. "Non avemo ni canones/ni tanks ni aviones/oi Carmelà!". Gli chiese se ancora dipingendo usava cantare "Oi Carmelà!" Egli improvvisamente sembrò commosso. Disse di no, che non cantava piú niente, i suoi nuovi quadri gli costavano tanta fatica, doveva dipingere arrampicato su una scala, sudava tanto che doveva cambiarsi la camicia ogni due ore. (...) "Non avemo ni canones/ ni tanks ni aviones" cantava dirigendosi nel traffico verso casa sua. A un tratto si accorse che aveva tutta la faccia bagnata di lagrime. Rise, singhiozzò e si asciugò le lagrime con la manica del pellicciotto. Vicino a casa sua comperò un pezzo di lombo di maiale da fare in umido con le patate. Comperò anche due bottiglie di birra e una scattola di zucchero. Poi comperò un fazzoletto nero e un paio di calze nere da mettere ai funerali del padre.»

Ginzburg, Natalia, «Caro Michele», Einaudi, Torino: 2001 (1973), pp. 32-36

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Darkness

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Barcelona, o nome da cidade



Madrid, dizia o poeta português Ruy Belo, é uma das cidades do mundo mais distantes de Lisboa. Não assim Barcelona. Desde logo pela língua, o catalão orgulhoso em todos os sinais públicos, que ora faz lembrar o italiano, ora recorda o francês, ou o português. Cidade aberta e europeia, com as casas de Gaudí em art nouveau, tão perto de França, e as ramblas que desembocam no Mediterrâneo. Cidade aberta como queremos que sejam todas as cidades. Também Lisboa e Madrid.
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Obrigado Ramon, Núria, Iolanda e Ferran pela hospitalidade: uma das mais belas palavras do mundo.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Viktor Frankl


«Finalmente, falei das múltiplas possibilidades de dar sentido à vida. Contei aos meus camaradas (...) que a vida humana tem sempre um sentido, quaisquer que sejam as condições em que se desenvolva, e que esse infinito sentido da existência abrange também o sofrimento, a miséria e a morte. (...) Sobre cada um de nós -acrescentei-poisava naquela hora difícil, e sobretudo na hora final próxima para muitos de nós, o olhar de alguém que de nós esperava alguma coisa, o de um amigo ou o de uma esposa, o de um vivo ou de um morto - ou o de Deus. E esse olhar esperava que não o desiludíssemos (...)»

Frankl, Viktor, Santos, Nuno (trad.), Um psicólogo no campo de concentração, Nova Vega, Lisboa: 2008

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Aforismo 109


109- «"Não é dizer que a fé nos falte. O simples facto da nossa vida não se pode consumir no seu valor de crença."

"Haveria nisso um valor de crença? Não se pode contudo não viver."

"É precisamente nesse 'não se pode não viver' que reside o poder louco da crença; é nesta negação que ele toma forma.»


Kafka, Franz, (trad. Alfredo Margarido), "Meditações sobre o pecado, o sofrimento, a esperança e o verdadeiro caminho" in Antologia de Páginas Íntimas, Guimarães Editores, Lisboa: 1997