« És meu convidado. É uma sorte teres-me encontrado. Eu também deveria ter feito quatro portas na minha casa, uma em cada parede, como fez Abraão. - Para quê quatro portas?- Para que os viandantes não tivessem dificuldades em encontrar a entrada.- E tu, onde aprendeste essas histórias?- Esta vem no Talmud, em qualquer parte da Mishá.»Primo Levi,
Se Não Agora, Quando?O meu professor de Literatura Americana na Faculdade de Letras costumava citar muitas vezes, a propósito de Whitman, uma cena da Ilíada, em que, no meio de uma batalha, os dois heróis homéricos páram de lutar, porque descobrem que o pai de um deles fora hóspede do pai do outro. Porque, na Grécia Antiga, o dever de hospitalidade transmitia-se de pais para filhos.
Emmanuel Lévinas, filósofo judeu de origem lituana, em Totalidade e Infinito, a sua obra central, coloca o começo do Pensamento no acolhimento do Outro. O filósofo invoca, repetidas vezes, os direitos do «órfão, viúva e estrangeiro», presentes na Tora. Para Lévinas, o Rosto do Outro, ao trazer à mente a ideia de Infinito, pode ser a presença de Deus.
A palavra umbral vem do latim liminaris, que significa limite, mas também tem dentro o fogo do castelhano lumbre. E eu às vezes penso que a vida se faz nos umbrais das portas, onde primeiro o corpo encontra outro corpo, onde primeiro se entra na habitação.