Ultimamente gosto de ir para a escola mais cedo e ficar a falar com as crianças no pátio do recreio. O Inácio, um menino da terceira classe, muito peculiar, está invariavelmente sozinho, com um ar absorto e pensativo, a caminhar pausadamente. Pergunto-lhe sempre se está a reflectir. Ontem, de repente, dou por ele, no pátio da escola, de mão dada com cinco ou seis crianças, como se enfrentassem a polícia de choque numa manifestação, todos a gritarem: "Revolução! Revolução! Revolução!". Tenho a certeza de que foi o pequeno Inácio a recrutar os militantes. Juro que não foi ideia minha! Longe de mim transmitir as minhas ideias anarquistas aos meninos... Mas claro que fiquei orgulhoso...
A Salomé, de seis anos, por seu lado, estava um bocadinho triste. A sua melhor amiga não tinha ido à escola. Eu disse-lhe que, assim, quando visse outra vez a amiga ia ficar ainda mais feliz, porque esperar pelos amigos é uma coisa boa. A Salomé desenha muito bem. Será com certeza pintora, porque tem um verdadeiro dom. Estava preocupada de não se conseguir lembrar bem do rosto da amiga, para a desenhar, quando chegasse a casa.
Estive também a falar com o amigo invisível do João Alberto, também de seis anos, que tem o mesmo nome e os mesmos poderes mágicos do João. Acederam amavelmente a dar-me os mesmos poderes. De modo que agora podemos os três voar, ficar invisíveis e "bater em tipos".
Tudo isto no espaço de quinze minutos. "Just imagine!"