domingo, 29 de junho de 2008

Carta (3)



«Eu dormia, mas de coração desperto.»
(Ct 5,2)

sábado, 21 de junho de 2008

Advertência



Antes da sua novela Le voci della sera, a escritora italiana Natalia Ginzburg insere uma pequena nota, para avisar o leitor que as personagens e o lugar da história não são reais. E logo acrescenta: «E tenho muito pena que não o sejam, porque os amei como se fossem reais». O que é outra forma de dizer o que é a ficção.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Pleasant Street


Mesmo nas tardes de Verão
Em que suávamos os dois
Pássaros dispersos
Sem localização precisa
No espaço e no tempo
.

Havia, ainda assim, os
Limites dos prédios
A arquitectura

.

Quando eu me prendia
Com um gancho
À doçura das paredes
Do teu rosto

.

E os pássaros
Perdiam a dor
Na imobilidade
Das tuas árvores.

sábado, 14 de junho de 2008

Jazz in painting

Mondrian, Broadway Boogie-Woogie (1942-1943)



Jackson Pollock, Number 7, 1951







quinta-feira, 5 de junho de 2008

Ao pequeno-almoço

Larry Beckett conta que chegou à mesa em que Tim tomava o pequeno-almoço e lhe entregou o texto. Tim pegou na guitarra e cantou a canção mais ou menos com a forma que tem hoje. Como se a música jorrasse pura da sua mente. As pessoas que assistiam à cena pasmavam, ao ver nascer uma canção tão bela à sua frente, de um momento para o outro.

domingo, 1 de junho de 2008

Os mansos



«Go down, Moses,
Way down in Egyptland
Tell old Pharaoh
To let my people go»
Espiritual Negro



Somos animais mansos. Ao fim do dia, juntamo-nos nos lugares para onde fomos conduzidos. Na estação de comboios, sentamo-nos em grupos nas escadas do átrio e nos muros. Uma babel de vozes enche o espaço em torno de nós. Somos os únicos a habitar os lugares públicos desta cidade. Somos os que não pertencem à cidade, que não têm dinheiro para se sentar dentro dos cafés. E têm de inventar bancos de jardim e ágoras. Não nos interessamos por turismo, pois estamos demasiado longe de toda a beleza. A Beleza não é compatível com os nossos horários. Então, na nossa língua eslava, dizemos os nomes por cima do vazio, inventamos pontes e reconhecemo-nos uns aos outros. Somos animais mansos.