quarta-feira, 9 de julho de 2008

Rua do Ouro

Esta rua fez um ano no fim do mês passado. É uma rua escondida, pequena, sem grande importância, ao contrário da outra Rua do Ouro. Gosto dela assim. Como em todas as ruas, há pessoas que passam por aqui e se cruzam sem se conhecerem,e, às vezes, sem sequer saberem da existência umas das outras.
Uma das coisas boas das ruas é que não têm dono. Até se poderia pensar que são sempre diferentes, consoante o transeunte. Mas não. As ruas são sempre as mesmas. Gostava, então, que este poema, dedicado a todos os estranhos que passam, fosse uma árvore nesta Rua do Ouro. As pessoas hão-de passar pela árvore, e algumas seguirão apressadas, sem reparar nela, enquanto outras pararão a olhar, encantadas, a fímbria de luz das folhas. Mas a árvore estará lá sempre, de noite e de dia, independentemente do olhar de quem vê, no mesmo sítio do passeio. À espera que lhe digam «olá». É essa a sua maravilha. Tal e qual um poema, vejam só!
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To a Stranger

Passing stranger! you do not know how longingly I
look upon you,
You must be he I was seeking, or she I was seeking, (it
comes to me, as of a dream,)
I have somewhere surely lived a life of joy with you,
All is recall’d as we flit by each other, fluid, affectionate,
chaste, matured,
You grew up with me, were a boy with me, or a girl
with me,
I ate with you, and slept with you—your body has
become not yours only, nor left my body mine only,
You give me the pleasure of your eyes, face, flesh, as we
pass—you take of my beard, breast, hands, in
return,
I am not to speak to you—I am to think of you when I
sit alone, or wake at night alone,
I am to wait—I do not doubt I am to meet you again,
I am to see to it that I do not lose you.
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Walt Whitman