A Joanna voltou a Lisboa depois de seis meses no Brasil. «Com o português arruinado», diz o Carlos, que é angolano. O facto é que seis meses foram suficientes para deixar de flexionar a segunda pessoa do singular e passar a dizer coisas como «tu fala», segundo a norma do Rio Grande do Sul, e a exclamar «legau» (assim, com o -l- velarizado) em resposta às minhas patetices.
Agora, a minha amiga, que cresceu na Ilha de Man, bem ao Norte da Grã-Bretanha, acha que numa noite com quinze graus faz muito frio. O Brasil deixou as suas marcas... E no entanto, a Joanna não se coíbe de se queixar de ser mordida por um mosquito, no Chiado, depois de ter andado dias a fio enfiada na selva amazónica, onde dormia ao relento, após aplicar no rosto repelente para insectos.
A Joanna voltou a Lisboa com histórias de pessoas muito pobres e muito boas. Um dia por mês o bilhete do ónibus é gratuito e os habitantes das redondezas invadem a vila. Nesse dia, fecham todas as lojas, com medo dos visitantes indesejáveis.Dia sim, dia sim, come-se feijão com arroz. O que me fez lembrar uma cantilena dos meninos de um livro do Érico Veríssimo:«Um, dois, feijão com arroiz/Um, dois, feijão com arroiz» As famílias são numerosas e muito hospitaleiras. E as crianças gostam muito da escola, ao contrário do que acontece na Europa, diz a Joanna, que deu aulas de Inglês.